Sem cemitério de aviões no Brasil, veja como é o fim da vida das aeronaves
Os aviões têm um ciclo de vida bem mais longo quando comparados a um carro, por exemplo. Um avião pode voar por décadas sem nenhum problema, desde que faça testes de segurança e siga padrões internacionais de manutenção e revisão.
Ainda assim, chega um dia em que os aviões não podem mais voar, seja pelo fim de sua vida útil, por danos severos ou, até mesmo, desinteresse dos proprietários.
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Quando um avião 'morre'?
Segundo a legislação brasileira, uma aeronave "deixa de existir" com o cancelamento de seu registro junto à Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), quando o dono ou o operador requisita isso, ou quando a aeronave é abandonada ou danificada.
Esse pode ser considerado o fim burocrático da aeronave, mas nem sempre ela é destruída.
Veja os principais destinos dos aviões e de suas peças após o encerramento de sua vida útil:
– Abandono: o avião fica abandonado até virar sucata, como ocorre em alguns aeroportos e aeroclubes.
– Leilão: o avião pode ser leiloado e encontrar um novo dono. Porém, como esse processo pode demorar bastante, muitos aviões acabam virando sucata. Isso ocorreu com várias aeronaves das falidas Vasp (Viação Aérea São Paulo) e Transbrasil, que tiveram poucas peças reaproveitadas enquanto esperavam por um novo destino.
– Desmonte: as aeronaves podem ter suas peças reaproveitadas em outras situações, como painéis de navegação ou hélices. Em nota, a Anac diz que não reconhece empresas de desmanche de aeronaves e que a remoção de peças fora de serviço, com a intenção de reutilizá-las, deve ser feita somente por pessoas certificadas em oficinas homologadas.
– Decoração: muitos aficionados da aviação costumam guardar peças de aeronaves como elementos de decoração. Um dos principais exemplos é a utilização de hélices de aeronaves expostas em salas de casas e bares.
– Venda para fora do Brasil: segundo Lito Sousa, especialista aeronáutico e autor do livro "Onde Morrem os Aviões" [sobre a experiência do autor em levar os aviões Electra aposentados da falida Varig para o Zaire], algumas aeronaves são vendidas para países mais pobres. "Após um determinado número de pousos, a manutenção fica muito cara, o que inviabiliza o uso. Em países em desenvolvimento, os aviões ainda podem voar por um tempo sem a devida fiscalização", disse Sousa.
– Doação: muitas aeronaves também são doadas para museus, onde ficam expostas com finalidades pedagógicas, ou para aeroportos, com a finalidade de servirem, entre outros motivos, para treinamento de equipes.
Cemitérios de aviões
Em países como Inglaterra, Estados Unidos, Austrália e Espanha, existem estruturas conhecidas como "cemitérios de aviões". Ali, os mais diversos tipos de aeronave aguardam uma destinação final, como voltar a operar com um novo dono ou o desmanche.
Como nem todos vão para esses locais para serem destruídos, já que podem voltar a voar, o termo mais correto seria "depósito de aviões". Quando há uma crise no mercado aeronáutico, por exemplo, recolhem-se os aviões a esses lugares para serem reativados depois, quando a procura voltar a subir.
O Brasil não tem nenhum cemitério de aviões, mas há diversos locais onde é possível encontrar aviões abandonados –como aeroportos, hangares e aeroclubes. Um dos motivos para isso, segundo especialistas ouvidos pelo UOL, é o baixo número de aeronaves em circulação em comparação com outros países.
Segundo Sousa, o alto preço dos terrenos também é um impeditivo para o país ter esse tipo de estrutura, já que seriam necessárias grandes porções de terra, além de infraestrutura portuária no local. Ainda segundo Sousa, outra razão é o clima. "Cemitérios ficam em lugares com baixa umidade relativa do ar para não corroer os aviões que estão apenas esperando um novo dono", disse.
Programa Espaço Livre
Em 2011, o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), em parceria com diversos órgãos públicos, lançou o Programa Espaço Livre, para remover dos aeroportos brasileiros as aeronaves que estavam sob custódia da Justiça ou que foram apreendidas em processos criminais.
À época, algumas aeronaves foram consideradas em condições de uso e foram desmontadas para ter suas peças leiloadas. Outras foram destruídas, como as da Vasp, que ficavam no aeroporto de Congonhas, em São Paulo.
O levantamento feito pelo programa trouxe à tona a situação de abandono das aeronaves no Brasil. Até seu encerramento, em 2015, o Espaço Livre removeu 50 aeronaves, de um total de 62, em 11 aeroportos de todo o país.
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