Conserto em Boeing atingido por tiro de fuzil pode custar até R$ 460 mil
Por Vinícius Casagrande
O centro de manutenção da Latam, em São Carlos, a 232 quilômetros de São Paulo, ainda aguarda a perícia da Polícia Federal para decidir como fará o conserto da peça de um Boeing 767 da companhia que foi atingido por um tiro de fuzil.
Somente após as autoridades liberarem a peça é que os mecânicos da empresa poderão verificar se ela poderá ser reparada ou se será necessário substituí-la por uma nova. A avaliação será feita pelos mecânicos da companhia após avaliar os danos causados e consultar os manuais de manutenção do avião e os técnicos da própria Boeing.
O tiro atingiu o slat, uma peça que fica na frente da asa e que ajuda a aumentar a sustentação do avião no momento do pouso. Caso seja necessária a troca, um slat novo de um Boeing 767 custa US$ 145 mil (cerca de R$ 460 mil).
Revisão geral
Os mecânicos da Latam descobriram que o avião havia sido atingido por um tiro durante a revisão geral da aeronave, chamada tecnicamente de check C. Durante o trabalho, diversas peças são desmontadas para verificar eventuais problemas.
"A cada 18 meses ou 6.000 horas de voo, o avião tem de passar por uma manutenção pesada. Durante a manutenção, a gente remove diversas partes para conseguir cumprir toda a inspeção", afirma o diretor do centro de manutenção da Latam, Alexandre Peronti.
O projétil foi descoberto por um mecânico que fazia a inspeção detalhada da asa do avião. Em uma plataforma, o mecânico subiu até a altura da asa e estendeu o slat para fazer as inspeções internas. "Foi nesse momento que ele detectou um furo de mais ou menos 1 cm com um projétil encravado", conta Peronti.
O trabalho de manutenção foi, então, interrompido imediatamente, para que a área de manutenção da Latam pudesse comunicar as autoridades, como Polícia Federal, Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos).
A investigação
Um dos focos da investigação será tentar descobrir onde e quando o Boeing 767 foi atingido. Procurada pelo Todos a Bordo, a Polícia Federal afirmou que não comenta investigações em andamento.
O diretor do centro de manutenção da Latam afirmou que a última revisão geral do avião havia sido feita em outubro de 2015. Desde então, o avião passou por outras manutenções, mas não de forma tão detalhada. "O acesso a essa área só é feito nessa manutenção pesada. Então, foi em qualquer momento entre outubro de 2015 e o último voo, em 15 de janeiro", afirma.
Sem danos à segurança do voo
O avião, em teoria, pode ter realizado diversos voos com um projétil de fuzil encravado na asa. Mas o diretor do centro de manutenção da Latam garante que o incidente não causou nenhum problema à segurança de voo. "O projétil afetou a área de carenagem (do slat). Entrou, ficou cravada nessa estrutura e não chegou a afetar a estrutura da asa em si. Foi só esse componente", afirma Peronti.
Antes de todos os voos, pilotos e mecânicos realizam uma inspeção visual para verificar as condições do avião antes de uma nova decolagem. No entanto, em nenhum momento foi verificado o furo causado pelo projétil. "É um avião que tem uma envergadura de 56 metros e o furo era de 1 cm, próximo à ponta da asa e em um local alto", diz.
Além disso, o diretor do centro de manutenção afirma que esse tipo de peça é desenvolvida para resistir a pequenos danos. "O conceito moderno dos projetos dos aviões é ser tolerante a danos. Essa peça é projetada e certificada para suportar impacto de alta energia. Durante o processo de desenvolvimento de uma nova aeronave, essas peças são submetidas a uma série de impactos para verificar o comportamento da estrutura e, a partir daí, determinar se ela pode ou não entrar em operação", afirma.
A decisão de reparo ou substituição do slat será feita em conjunto entre mecânicos da Latam e técnicos da Boeing, consultando as recomendações dos manuais do avião. Caso a troca seja necessário, o trabalho será realizado por três mecânicos e deve durar entre três e cinco horas.
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