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Quando o avião precisa ‘tomar banho’ quente com líquido laranja e verde?

Todos a Bordo

23/12/2016 06h00

Processo de descongelamento de um avião em Nova York, nos EUA (Foto: AP Photo/Seth Wenig)

Por Vinícius Casagrande

Em dias de nevasca, comuns nesta época do ano nos Estados Unidos, os aviões precisam passar por um processo de descongelamento instantes antes da decolagem para retirar a neve e o gelo acumulados sobre a fuselagem.

Quando todos os passageiros já estão devidamente acomodados em seus assentos, pelo menos dois caminhões se aproximam para dar um banho quente no avião. Para isso, é utilizado um líquido verde ou laranja.

O processo dura somente alguns minutos, mas é essencial para garantir a segurança do voo.

Os danos causados pelo gelo

Para voar, um avião depende do desenho aerodinâmico das asas e dos estabilizadores presentes na cauda da aeronave. Quando há neve ou gelo acumulado, esse desenho é alterado e pode influenciar na sustentação do avião.

O gelo também pode se acumular nas partes móveis do avião, como ailerons e profundor, e impedir seu correto funcionamento. Outro problema é a obstrução da entrada de ar em sensores como o tubo de Pitot, responsável por medir a velocidade do avião. Sem as orientações corretas, o piloto pode perder totalmente o controle do avião.

A neve altera a aerodinâmica do avião e coloca o voo em risco (Foto: Lee Seok-hyung/Reuters)

Degelo e anticongelante

O material aplicado é um fluido aquecido a uma temperatura de cerca de 80º C. O líquido é composto de uma grande concentração de Propilenoglicol – além de agir como um anticongelante, esse composto também é usado como hidratante em cosméticos, por exemplo.

Para fazer o descongelamento do avião, primeiro é aplicado o fluido laranja. Dependendo da temperatura ambiente, ele pode ser misturado com água. Quanto mais frio, menos água é utilizada. São aplicados cerca de 200 litros do fluido para descongelar um avião.

Se após o descongelamento estiver nevando ou com chuva de gelo, é aplicado o fluido verde, também composto de Propilenoglicol mas sem água na sua composição. Ele cria uma película anticongelante para proteger o avião até a decolagem. O efeito dura cerca de uma hora.

Durante o banho, o sistema de ventilação do avião é desligado. Embora o fluido não seja tóxico, a intenção é evitar que o odor entre na cabine de passageiros.

Fluido é aplicado para tirar neve de avião na Alemanha (Foto: Fredrik von Erichsen/EFE)

Em voo, é sempre frio

Depois que o avião decola, o ar externo fica cada vez mais frio. A relação é de queda na temperatura de 1º C a cada 150 metros que o avião sobe.

Um avião comercial costuma voar a uma altitude média de 10 mil metros. Com isso, a temperatura na altitude de voo pode ser mais de 60º C mais fria do que em relação ao nível do mar. Por isso, a prevenção à formação de gelo em voo é importante independentemente da época do ano.

Aeroportos dos EUA costumam ter muita neve neste época (Foto: Shannon Stapleton/Reuters)

Sistema de prevenção de gelo em voo

Para prevenir a formação de gelo em altitudes elevadas, os aviões contam com sistemas instalados nas asas, na cauda, na entrada do motor e em diversos sensores instalados na fuselagem.

Nos aviões maiores, são utilizados sistemas de aquecimento da superfície do avião, que incluem jatos de ar quente provenientes do motor. Nos aviões menores, é mais comum encontrar colchões de ar nas asas e na cauda. Eles são constantemente inflados para quebrar o gelo assim que ele é formado.

Avião deve estar sem nenhum vestígio de neve ou gelo antes da decolagem (Foto: Jing Lei/Xinhua)

E no calor?

As altas temperaturas também influenciam diretamente na performance de decolagem. Um avião precisa de ar para a potência dos motores e ter sustentação em voo.

No entanto, em dias quentes a densidade do ar diminui, deixando as partículas mais dispersas e o ar mais rarefeito. É o mesmo que acontece em locais de altitude mais elevada, como La Paz, na Bolívia, por exemplo. Com isso, os motores perdem potência.

O resultado é que os aviões precisam percorrer um pedaço de pista maior para decolar. Em pistas curtas, a solução é diminuir o peso do avião, retirando passageiros ou carga.

Outro problema do calor é que nos dias quentes a turbulência costuma ser um pouco mais forte. Como o ar quente sobe, isso cria mais instabilidade no ar e provoca o desagradável balanço do avião.

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