Pior acidente da aviação mundial, com 583 mortos, completa 40 anos
Por Vinícius Casagrande
No dia 27 de março de 1977, há exatos 40 anos, a aviação mundial presenciava o pior acidente de sua história, jamais superado até hoje. No aeroporto de Tenerife, na Espanha, dois aviões Boeing 747 se chocaram na pista de decolagem, deixando 583 mortos. Apenas 65 pessoas, entre passageiros e tripulantes, sobreviveram.
Os dois aviões que se envolveram no acidente pertenciam à companhia aérea holandesa KLM e à já extinta norte-americana Pan Am. Todos os sobreviventes estavam a bordo do Boeing da Pan Am.
Ameaça de bomba em Las Palmas
Os dois aviões não estavam previstos para pousar no aeroporto de Tenerife. Ambos tinham como destino final o aeroporto de Las Palmas, também na Espanha. Naquele dia, porém, uma ameaça de bomba em um dos terminais forçou as autoridades a suspender todas as operações no aeroporto local. Assim, os aviões tiveram de ser desviados para Tenerife.
Muitos aviões chegaram a ficar horas parados esperando a reabertura do aeroporto de Las Palmas. O aeroporto de Tenerife passou a viver um certo caos. Com um tráfego de aviões muito superior ao registrado normalmente, não havia espaço para estacionamento de todas as aeronaves. Assim, alguns aviões tiveram de ficar parados nas pistas de táxi, dificultando a circulação de outras aeronaves.
Baixa visibilidade e falha de comunicação
Já era o final da tarde quando os aviões começaram a receber autorização para decolar rumo a Las Palmas. Um novo imprevisto, no entanto, dificultava novamente as operações. Naquele momento, uma forte neblina cobria o aeroporto de Tenerife, reduzindo a visibilidade do pilotos e dos controladores de tráfego aéreo.
Apesar da dificuldade, o Boeing 747 da KLM foi autorizado a prosseguir até a cabeceira da pista e aguardar novas ordens. Instantes depois, o avião da Pan Am recebeu instruções para cruzar a pista e seguir a um ponto perto da cabeceira, já que seria um dos próximos a decolar.
Os pilotos da KLM, porém, não compreenderam a mensagem corretamente (provavelmente por conta da pronúncia ruim do inglês dos controladores espanhóis) e assim que chegaram à cabeceira da pista iniciaram o procedimento de decolagem. Com a baixa visibilidade, os pilotos não viram que havia outro Boeing 747 fazendo uma manobra.
Desespero no Boeing da Pan Am
Enquanto cruzavam a pista, os pilotos da Pan Am conseguiram perceber que as luzes do Boeing da KLM estavam se aproximando e tentaram acelerar para sair da pista antes da chegada do outro avião.
"Comecei a gritar para sairmos da pista e o capitão começou a virar o avião. Olhei para a minha janela, do lado direito, e vi ele decolando da pista. Então, fechei os olhos, me abaixei e, basicamente, fiz uma oração curta na esperança de que ele não nos atingisse", afirmou o copiloto do Boeing da Pan Am, Robert Bragg, em uma entrevista à BBC no ano passado.
Nesse momento, o avião da KLM já atingia uma velocidade de 250 km/h. O choque foi inevitável.
"Quando ele nos atingiu foi uma batida muito curta. Nenhum barulho muito alto, nenhum chacoalhão forte. Eu pensei, 'graças a Deus, ele não nos acertou'. Então olhei para cima, para os controles de combate a incêndio, e foi quando eu notei que o teto do avião não estava mais lá", disse.
Fuga do avião em chamas
O copiloto conseguiu saltar da cabine a uma altura de cerca de 12 metros do chão. A maioria dos passageiros sobreviventes saiu pela asa esquerda do avião e também teve de saltar. Somente os primeiros a sair do avião conseguiram se salvar, antes que o tanque central de combustível explodisse.
Após o impacto, o Boeing da KLM se despedaçou no chão e a fuselagem só parou totalmente cerca de 800 metros após o ponto de impacto.
Causas e consequências do acidente
As investigações apontaram diversas causas para o pior acidente da aviação mundial, e todas estão relacionadas a fatores humanos. As principais são falhas de comunicação entre os pilotos e o controle de tráfego aéreo, erros na pronúncia do inglês por parte dos controladores, cansaço dos pilotos e problemas de relacionamento entre os pilotos da KLM.
Depois do acidente, a aviação estabeleceu diversas mudanças nos procedimentos padrões. Os termos utilizados pelos controladores passaram a contar com uma fraseologia padrão em todo o mundo, há testes de inglês mais rigorosos e o treinamento para evitar conflitos dentro da cabine foi aprimorado.
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