Quer ser comissário de bordo? <br>Conheça o processo de formação
Na comédia americana Voando Alto, dirigida pelo brasileiro Bruno Barreto, Donna (Gwyneth Paltrow) é uma jovem interiorana que sonha em conhecer o mundo como aeromoça. Seu maior objetivo, na verdade, é bem específico: ingressar em uma grande companhia, para trabalhar na primeira classe do trecho Nova York/Paris. Na vida real, a carreira de comissário de bordo (homens também são bem-vindos) é um pouco menos glamourosa. A preparação inclui treinamentos de sobrevivência na selva e na água – e uma das certificações precisa ser renovada a cada dois anos.
No Brasil, o primeiro passo para um iniciante é se inscrever em um curso preparatório, que o tornará apto a realizar as provas da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), para, só então, se candidatar a vagas abertas periodicamente em companhias aéreas nacionais e internacionais. Para se matricular, é necessário ser maior de 18 anos e ter ensino médio completo. Não há idade máxima para concorrer a vagas do tipo no Brasil, mas corre extraoficialmente nesse mercado um teto estimado de 35 anos.
"Uma pessoa pode fazer o curso aos 50, tirar a certificação e se candidatar a uma vaga normalmente, mas não há garantias de que venha a ser escolhida", afirma Carlos Prado, coordenador na Escola Master de Aviação, em São Paulo. Também há um limite mínimo de altura: um metro e 56 centímetros. Prado explica que essa exigência tem uma razão trivial – o comissário precisa alcançar o bagageiro de malas de mão. Idiomas estrangeiros são um diferencial importante. "No mínimo, inglês ou espanhol intermediários."
Estima-se que o salário médio desse profissional no Brasil seja de R$ 4 mil reais, o que inclui cerca de R$ 2 mil fixos e outros R$ 2 mil como uma média de horas de voo trabalhadas ao mês. Em alguns casos, o valor total pode ser acrescido de outros R$ 1 mil em diárias para alimentação, pagas no tempo em que o comissário passa em solo fora da cidade em que mora. Quando isso acontece no exterior, o valor pode subir, de acordo com a moeda vigente. "No entanto, em casos de afastamento temporário, como uma licença médica, o profissional ganha apenas o salário fixo", lembra Prado.
Teoria e prática
Rosana Andrade, coordenadora na Escola de Aviação Congonhas (Eacon), também em São Paulo, explica que a formação para comissários de bordo é estruturada em quatro eixos, com base na prova da Anac: Selva, Mar, Combate ao Fogo e Emergência (sobrevivência); Direitos e Deveres do Aeronauta (legislações pertinentes); Higiene, Saúde, Pronto-Socorro e Medicina Aeroespacial (emergências durante o voo); e Conhecimentos Gerais (noções de navegação e meteorologia, entre outros). "Além disso, há aulas de etiqueta e de atendimento ao público, que não são cobradas pela Anac, mas muito importantes para as companhias", diz.
A formação pode ocorrer em cinco meses, com aulas de segunda a sexta, ou em oito meses, apenas aos sábados. O custo total de um curso do tipo é de R$ 2,5 mil, em média. O candidato também precisa arcar com uma bateria de exames médicos em hospitais aeronáuticos, para atestar sua capacidade física, e com a prova da Anac, para obter o Certificado de Conhecimento Teórico, que é permanente.
Mas o processo de formação não acaba aí. Depois de passar pelo processo seletivo de uma companhia, o profissional tem de passar por um treinamento interno, de acordo com os protocolos de cada empresa e com as especificidades da aeronave na qual vai trabalhar, por um período mínimo de 27 horas-aula. Em seguida, faz 15 horas de estágio em voo, para ser então submetido a uma outra avaliação da Anac, na qual vai obter o Certificado de Habilitação Técnica, que precisa ser renovado a cada dois anos.
A coordenadora Andrade afirma que o mercado segue aquecido, a despeito do atual desempenho da economia brasileira. "Sempre que vemos uma notícia de que uma companhia está comprando aeronaves, sabemos que, em breve, vai abrir um novo processo seletivo." E, de fato, essas aquisições continuaram a ocorrer nos últimos meses.
Leandro Quintanilha – leandroq@gmail.com
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