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Como funcionam radares da FAB para combater crimes com aviões na fronteira?

Alexandre Saconi

14/04/2019 04h00

 

Estação Radar LP23SST NG – RSM970S já em operação no país. FAB comprou mais três unidades para defesa da fronteira (Crédito: Divulgação/Omnisys)

A FAB (Força Aérea Brasileira) adquiriu recentemente três sistemas radar ao custo de R$ 127 milhões ao todo para ampliar a vigilância na fronteira do Brasil com países vizinhos. Os sistemas, com raio de alcance de cerca de 463 km, serão instalados nas cidades de Corumbá, Ponta Porã e Porto Murtinho, todas no Mato Grosso do Sul.

A FAB apontou que os locais foram escolhidos devido ao número de aeronaves observadas entrando no país de maneira irregular pela região e pelas eventuais falhas na cobertura de radar naquela área do mapa.

Como funciona o sistema?

Cada sistema radar é composto por duas unidades: um radar primário LP23SST-NG e um radar secundário RSM970S. Segundo Aroldo Soares, controlador de voo aposentado e professor universitário, cada um funciona, de maneira simplificada, da seguinte maneira:

Radar primário ou alvo: É aquele que pega qualquer coisa no caminho. É uma onda eletromagnética que bate no obstáculo (aeronave, prédio, bando de pássaros, montanha) e retorna, registrando os dados na tela do operador. Se assemelha ao sonar de um submarino e tem grandes áreas de cobertura.

Radar secundário: Funciona associado ao radar primário e faz a comunicação com o transponder do avião. Ele troca informações eletrônicas com o transponder para descobrir dados com altitude, velocidade etc.

Equipamentos de operação da estação radar LP23SST NG-RSM970S (Crédito: Divulgação/Omnisys)

Soares ainda diz que estes radares têm de ser instalados em locais estratégicos, pois, se há uma montanha no caminho, por exemplo, eles não são capazes de detectar o que está por trás dela

"Uma das coisas mais importantes da defesa aérea é o radar primário, já que a aeronave ilícita não vai voar identificada. […] Antes desses radares, o Brasil era terra de ninguém. Hoje, com o Cindacta IV na Amazônia, o país começou a colocar ordem na casa, realizando mais interceptações", afirma Soares.

Interceptações

Os novos equipamentos são fabricados pela Omnisys, em São Bernardo do Campo (SP), e irão reforçar a operação Ostium, que consiste em um reforço na vigilância do espaço aéreo sobre a região de fronteira do Brasil, realizada pela FAB. A intenção é evitar voos irregulares que tenham alguma ligação com o narcotráfico ou outros crimes.

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Quando uma aeronave que está voando de maneira irregular é detectada pelos sistemas da Aeronáutica no Comae (Comando de Operações Aeroespaciais), é avaliada a necessidade de interceptação. Se for o caso, podem ser acionadas qualquer uma das seguintes aeronaves:

  • Supersônicos F-5M, baseados em Manaus (AM), Anápolis (GO), Rio de Janeiro (RJ) e Canoas (RS)
  • Turboélices A-29 Super Tucano, baseados em Boa Vista (RR), Porto Velho (RO), Campo Grande (MS) e Natal (RN)
  • Helicópteros AH-2 Sabre, baseados em Porto Velho (RO)
  • Helicópteros H-60 Black Hawk, sediados em Manaus (AM) e Santa Maria (RS)

Impacto

O efeito da instalação dos radares na fronteira no combate ao tráfico de drogas pode representar um aumento no número de apreensões, mas seu impacto no consumo é questionado. Para Rodrigo Fracalossi, pesquisador da área de segurança e relações internacionais do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), "a existência destes radares vai diminuir a frequência de voos transportando drogas no país". "É o mesmo que aconteceu na Colômbia, que instalou diversos destes radares em seu território, o que diminuiu drasticamente o transporte de drogas pelo meio aéreo".

Entretanto, ainda segundo Fracalossi, a colocação destes radares na fronteira nem arranha a questão do tráfico internacional de drogas. "Com o combate à oferta, a ideia é diminuir a disponibilidade no mercado e aumentar o risco para quem vende as drogas. Essa atividade passa a ser mais arriscada, o que aumenta o preço da droga. Mas, no mercado de drogas, como a cocaína, que causa dependência química, esse impacto é quase nulo", diz.

"A demanda pela cocaína é pouco sensível ao preço. Com a elevação do preço desta droga, por exemplo, a pessoa não para de utilizá-la. Ela vai passar a realocar a sua renda e, quando a renda for insuficiente, passa a roubar para manter este vício", afirma o pesquisador, declarando que o Brasil não deve abdicar da defesa e do controle do espaço aéreo. "Há o risco de uma invasão por uma aeronave espiã, de outros países e de empresas, por exemplo", diz.

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