Investigação de acidente aéreo não busca culpado, mas como evitar o próximo
Vinícius Casagrande
11/02/2019 19h44
Uma investigação de acidentes de aviação, como o do helicóptero Bell Jet Ranger com o jornalista Ricardo Boechat, tem como prioridade descobrir as razões técnicas para tentar evitar um próximo episódio similar.
As investigações conduzidas pelas autoridades aeronáuticas não tem como missão apontar culpados pelo acidente. A função principal é entender os motivos do acidente para trabalhar na prevenção, e evitar que casos semelhantes aconteçam no futuro. É por isso que, tecnicamente, o Cenipa não utiliza o termo "causas do acidente", mas sim "fatores contribuintes do acidente".
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Não há prazo para conclusão. "A necessidade de descobrir todos os fatores contribuintes garante a liberdade de tempo para a investigação. A conclusão de qualquer investigação conduzida pelo Sipaer ((Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) terá o menor prazo possível dependendo sempre da complexidade do acidente", afirma o Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos).
Logo após a queda do helicóptero, uma equipe do Seripa (Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) foi até o local do acidente para coletar os primeiros dados para o início das investigações. Essa é uma rotina seguida por peritos em todos os casos de acidente aeronáutico.
Quem faz o trabalho
Segundo a FAB (Força Aérea Brasileira),uma comissão de investigação de acidentes aeronáuticos é formada basicamente por três profissionais que analisam os fatores operacionais, materiais e humanos.
Fator operacional: investigação de aspectos referentes ao desempenho do ser humano na atividade relacionada com o voo, que inclui desde fatores meteorológicos, instrução e experiência da tripulação.
Fator material: segurança de voo que se refere à aeronave nos seus aspectos de projeto, fabricação e de manuseio de material. Não inclui os serviços de manutenção de aeronave.
Fator humano: Aspectos médico e psicológico. Segurança de voo nos aspectos fisiológicos e psicológicos que possam ter refletido nas ações da tripulação.
Em casos mais complexos, a comissão pode ser formada por outros especialistas, como pilotos, engenheiros, psicólogos, controladores de tráfego aéreo e mecânicos. Todos os profissionais devem ser credenciados pelo Sipaer.
Investigação divida em três etapas
Coleta de dados: Ação inicial das equipes de militares especializados, que consiste na coleta de dados. Para isso, analisa os destroços, busca indícios de falhas, levanta hipóteses sobre performance da aeronave nos momentos finais do voo, fotografa detalhes, entrevista testemunhas e retira partes da aeronave para análise.
Análise de dados: Fase em que os dados coletados são analisados, estabelecendo relações que levarão em conta diversos fatores, sejam materiais (sistemas da aeronave e projeto), humanos (aspectos médicos e psicológicos) ou operacionais (rota, meteorologia entre outros). Ao longo dos trabalhos, outros profissionais (pilotos, engenheiros, médicos, psicólogos, mecânicos) poderão se integrar à comissão, conferindo um caráter multidisciplinar.
Apresentação dos resultados: O resultado da investigação é divulgado somente após a conclusão do relatório final, que é publicado no site do Cenipa. Ele identifica os fatores que contribuíram para o acidente e elabora as respectivas recomendações de segurança.
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