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Aeroporto pode ter mais de um pouso e decolagem ao mesmo tempo?

UOL Economia

09/10/2018 04h00

Pista do aeroporto de Brasília – Foto: Bento Viana/Inframérica

A maioria dos aeroportos de grande porte tem pelo menos duas pistas de pousos e decolagens, uma paralela à outra. Porém, quase sempre, só uma delas é utilizada. Quando as duas estão em uso, uma recebe pousos e, após a aeronave estar em solo, a pista ao lado é liberada para uma decolagem.

Afinal, é possível ter pousos e decolagens acontecendo ao mesmo tempo?

Sim. E isso ajuda a economizar tempo e dinheiro, além de aumentar a quantidade de passageiros transportados.

Quem regulamenta esse tipo de operação é a Oaci (Organização da Aviação Civil Internacional), órgão da ONU que regula o transporte aéreo civil internacional.

Grandes centros de conexão internacionais, como Heathrow (Inglaterra), Beijing Capital International (China) e San Francisco (EUA), entre outros, comportam pousos e decolagens simultâneos.

Vídeo mostra dois aviões pousando ao mesmo tempo em San Francisco (EUA):

O que é preciso para ter pousos e decolagens simultâneos?

A resposta é simples: uma distância segura entre as pistas. A Oaci determina que a distância mínima entre o eixo central das pistas deve ser de 1.035 metros nessas situações.

Em alguns aeroportos, enquanto uma pista é para aviões que estão de partida, outra é usada para voos que estão chegando, o que não configura a operação simultânea. Quando não ocorre isso, a distância entre as pistas pode ser inferior, como é o caso do aeroporto de Cumbica, em Guarulhos.

Brasília tem essa capacidade

Na América Latina, apenas o aeroporto de Brasília opera dessa maneira, segundo informações da FAB (Força Aérea Brasileira), Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e Euromonitor (órgão internacional de segurança do tráfego aéreo).

Outros aeroportos na região também possuem a distância mínima para realizar pousos e decolagens simultâneos, como os aeroportos internacionais Comodoro Arturo Merino Benítez, em Santiago (Chile), e El Dorado, em Bogotá (Colômbia). Em tese, eles poderiam ter esse tipo de operação. Porém, ocasionalmente, os aeroportos não atendem a outros critérios estabelecidos pela Oaci ou não manifestaram, ainda, interesse nas operações simultâneas.

O aeroporto da capital brasileira tem capacidade para até 64 movimentos por hora. Para garantir a segurança, o controle de tráfego aéreo realiza a seguinte divisão: as aeronaves que se aproximam pelos setores Sul/Sudeste de Brasília (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Goiânia etc.) pousam na pista sul. As aeronaves procedentes dos setores Norte/Nordeste de Brasília (EUA, Manaus, Recife, Salvador etc.) pousam na pista norte. A mesma lógica é usada para as decolagens.

Essa operação reduz o tempo entre os pousos e decolagens, além de permitir que o espaço aéreo seja mais bem otimizado, que os voos sejam mais rápidos e, em consequência, haja menos gasto de combustível e redução de emissão de gás carbônico.

No Brasil, além do aeroporto de Brasília, apenas as pistas de pousos da AFA (Academia da Força Aérea), em Pirassununga (SP), possuem distância mínima para operar pousos e decolagens simultâneos. Porém, a atividade deste aeródromo é primordialmente militar.

Dois incidentes em 2016

Dois incidentes foram registrados no aeroporto de Brasília durante decolagens simultâneas em 2016.

O primeiro ocorreu em 23 de fevereiro daquele ano. Devido a um erro em uma manobra, um avião da Polícia Federal correu o risco de colidir com um da FAB (Força Aérea Brasileira). O avião da PF deveria ter decolado e virado para a direita, mas virou à esquerda, aproximando-se da aeronave da FAB.

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Poucos dias depois, em 2 de março, houve outro incidente, dessa vez envolvendo um avião da Gol e um da Avianca. O voo da Gol, que decolava à esquerda do da Avianca, deveria ter se mantido em linha reta após deixar o solo. Entretanto, virou à direita. Com isso, ocorreu uma aproximação entre as aeronaves.

Em ambos os casos, a atuação dos controladores de voo evitou que ocorressem acidentes.

Esse tipo de operação ficou suspensa por um tempo, e depois o aeroporto de Brasília retomou as atividades simultâneas de pouso e decolagem. Algumas medidas foram tomadas para evitar novas ocorrências:

  • Cada setor de aproximação ao aeroporto é gerenciado por um controlador de tráfego aéreo;
  • Um controlador fica dedicado, exclusivamente, a monitorar a aproximação dos aviões até a cabeceira da pista, podendo interferir nas comunicações e coordenar manobras evasivas quando necessário;
  • A torre de controle passou a ter a obrigação de informar às aeronaves, antes da decolagem, o sentido da primeira curva a ser realizada após entrarem em voo.

Atualmente, as cartas de navegação aeronáuticas estão sendo atualizadas, e o aeroporto de Brasília está apenas recebendo pousos simultâneos, com as decolagens paralelas simultâneas independentes suspensas até o término da atualização.

(Por Alexandre Saconi)

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