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Erros e corrupção transformaram aeroporto alemão em vergonha nacional

Todos a Bordo

07/06/2017 04h00

Aeroporto de Berlim deveria ter sido inaugurado em outubro de 2011 (Foto: Divulgação)

Por Vinícius Casagrande

A eficiência em tudo o que produz é uma marca alemã. A obra do novo aeroporto de Berlim, no entanto, tem contrariado essa máxima. Previsto inicialmente para ser inaugurado em outubro de 2011, o novo aeroporto da capital alemã acumula anos de atraso, gastos bem acima do orçamento original e segue sem uma data definida para começar suas operações.

A única certeza é de que haverá pelo menos mais um ano de atraso. A expectativa anterior era de que o aeroporto Berlim-Bradenburgo Willy Brand finalmente fosse aberto neste mês, mas as autoridades já adiaram a inauguração para 2018, sem um mês exato. Foi a sexta vez que a inauguração do aeroporto teve de ser adiada.

Os constantes atrasos têm gerado diversos problemas e prejuízos para a capital alemã. Quando as obras tiveram início em 5 de setembro de 2006, a expectativa era de que o novo aeroporto tivesse um custo total de cerca de 2 bilhões de euros (R$ 7,4 bilhões). Mais de uma década depois, já foram consumidos mais do que o triplo do valor inicial, cerca de 6,5 bilhões de euros (R$ 24 bilhões).

Fachada do novo aeroporto de Berlim (Foto: Divulgação)

Entre os erros de projeto e até suspeitas de corrupção que se acumularam ao longo dos últimos anos, o aeroporto já virou motivo de vergonha nacional. O escândalo custou até mesmo o cargo do ex-prefeito de Berlim Klaus Wowereit, que também exercia a função de presidente do conselho fiscal das obras. Além disso, o governo de Berlim cancelou os contratos com o consórcio responsável pelas obras e contratou novas empresas.

O último problema detectado foi na instalação das portas automáticas de entrada do terminal de passageiros. Durante os testes realizados no início do ano, verificou-se que elas não fechavam direito, o que poderia gerar um grave risco de segurança em caso de incêndio. Assim, cerca de 1.200 portas automáticas estão sendo substituídas.

Além disso, havia problemas também nos detectores de fumaça e outros sistemas de combate a incêndio.

Área interna do terminal de passageiros do novo aeroporto de Berlim (Foto: Divulgação)

Erros desde o início das obras

Os problemas com o aeroporto Berlim-Bradenburgo Willy Brandt começaram logo no início das obras. O projeto inicial teve de ser alterado por questões banais. Primeiro, os administradores queriam ter mais espaço para lojas e restaurantes. Com o avanço das obras, verificou-se que os portões de embarque e desembarque de passageiros e até a quantidade de escadas rolantes eram insuficientes para o tamanho do aeroporto.

O aeroporto também sofria com a má qualidade das obras do estacionamento, falta de áreas de check-in e esteiras de bagagem. Mais de 90 km de cabos tiveram de ser substituídos por problemas na instalação e cerca de 4.000 portas foram numeradas erroneamente.

As mudanças foram feitas e, inicialmente, estava mantida a data de outubro de 2011. Poucos meses antes, no entanto, já era possível prever que o cronograma não seria cumprido, e o aeroporto teve sua inauguração marcada para o dia 3 de junho de 2012.

Dessa vez, tudo parecia seguir corretamente, e o aeroporto já se preparava para a inauguração, inclusive com simulações de funcionamento, como check-in, despacho de bagagem e controle de segurança. Menos de um mês da data prevista para receber o primeiro voo, no entanto, o aeroporto foi reprovado nos testes de combate a incêndio, e abertura foi proibida pelas autoridades locais.

Terminal de passageiros não tinha sistema adequado de combate a incêndios (Foto: Divulgação)

Enquanto eram feitas as alterações exigidas, moradores da região, que já lutavam contra o funcionamento do aeroporto durante a noite, conseguiram uma decisão judicial para obrigar a construção de novas barreiras sonoras.

A Câmara de Vereadores de Berlim chegou a instalar uma comissão de inquérito para apurar as irregularidades. O problema mais grave está no projeto de combate a incêndio, que segue recebendo modificações. Outro problema é em relação à capacidade de passageiros, que estaria abaixo do previsto.

Equipamentos de segurança já estão instalados no novo aeroporto de Berlim (Foto: Divulgação)

Ineficiência alemã

Com os atrasos da obra, Berlim sofre com uma ineficiente estrutura aeroportuária que impede até mesmo o aumento dos voos que servem a capital alemã. Berlim já chegou a ter três aeroportos: Tegel, Schönefeld e Tempelhof. Este último – e mais antigo da cidade – foi desativado em 2008, na expectativa da iminente inauguração do novo aeroporto.

Inaugurado em 1923, o aeroporto de Tegel tem uma estrutura precária e também já deveria estar desativado (a ideia era encerrar as operações no dia da inauguração do novo aeroporto), mas segue em operação para não criar ainda mais problemas para a capital alemã. O novo terminal de Berlim fica ao lado do acanhado aeroporto de Schönefeld e deverá utilizar até mesmo uma de suas pistas, mas a área de passageiros é completamente nova e independente.

Schönefeld também seria desativado com a abertura do aeroporto Berlim-Bradenburgo Willy Brand. Com as incertezas em torno do novo terminal de Berlim, no entanto, o aeroporto de Schönefeld já iniciou um processo de ampliação, e seu fechamento definitivo já é visto como improvável.

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