Como funcionam radares da FAB para combater crimes com aviões na fronteira?
A FAB (Força Aérea Brasileira) adquiriu recentemente três sistemas radar ao custo de R$ 127 milhões ao todo para ampliar a vigilância na fronteira do Brasil com países vizinhos. Os sistemas, com raio de alcance de cerca de 463 km, serão instalados nas cidades de Corumbá, Ponta Porã e Porto Murtinho, todas no Mato Grosso do Sul.
A FAB apontou que os locais foram escolhidos devido ao número de aeronaves observadas entrando no país de maneira irregular pela região e pelas eventuais falhas na cobertura de radar naquela área do mapa.
Como funciona o sistema?
Cada sistema radar é composto por duas unidades: um radar primário LP23SST-NG e um radar secundário RSM970S. Segundo Aroldo Soares, controlador de voo aposentado e professor universitário, cada um funciona, de maneira simplificada, da seguinte maneira:
Radar primário ou alvo: É aquele que pega qualquer coisa no caminho. É uma onda eletromagnética que bate no obstáculo (aeronave, prédio, bando de pássaros, montanha) e retorna, registrando os dados na tela do operador. Se assemelha ao sonar de um submarino e tem grandes áreas de cobertura.
Radar secundário: Funciona associado ao radar primário e faz a comunicação com o transponder do avião. Ele troca informações eletrônicas com o transponder para descobrir dados com altitude, velocidade etc.
Soares ainda diz que estes radares têm de ser instalados em locais estratégicos, pois, se há uma montanha no caminho, por exemplo, eles não são capazes de detectar o que está por trás dela
"Uma das coisas mais importantes da defesa aérea é o radar primário, já que a aeronave ilícita não vai voar identificada. […] Antes desses radares, o Brasil era terra de ninguém. Hoje, com o Cindacta IV na Amazônia, o país começou a colocar ordem na casa, realizando mais interceptações", afirma Soares.
Interceptações
Os novos equipamentos são fabricados pela Omnisys, em São Bernardo do Campo (SP), e irão reforçar a operação Ostium, que consiste em um reforço na vigilância do espaço aéreo sobre a região de fronteira do Brasil, realizada pela FAB. A intenção é evitar voos irregulares que tenham alguma ligação com o narcotráfico ou outros crimes.
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Quando uma aeronave que está voando de maneira irregular é detectada pelos sistemas da Aeronáutica no Comae (Comando de Operações Aeroespaciais), é avaliada a necessidade de interceptação. Se for o caso, podem ser acionadas qualquer uma das seguintes aeronaves:
- Supersônicos F-5M, baseados em Manaus (AM), Anápolis (GO), Rio de Janeiro (RJ) e Canoas (RS)
- Turboélices A-29 Super Tucano, baseados em Boa Vista (RR), Porto Velho (RO), Campo Grande (MS) e Natal (RN)
- Helicópteros AH-2 Sabre, baseados em Porto Velho (RO)
- Helicópteros H-60 Black Hawk, sediados em Manaus (AM) e Santa Maria (RS)
Impacto
O efeito da instalação dos radares na fronteira no combate ao tráfico de drogas pode representar um aumento no número de apreensões, mas seu impacto no consumo é questionado. Para Rodrigo Fracalossi, pesquisador da área de segurança e relações internacionais do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), "a existência destes radares vai diminuir a frequência de voos transportando drogas no país". "É o mesmo que aconteceu na Colômbia, que instalou diversos destes radares em seu território, o que diminuiu drasticamente o transporte de drogas pelo meio aéreo".
Entretanto, ainda segundo Fracalossi, a colocação destes radares na fronteira nem arranha a questão do tráfico internacional de drogas. "Com o combate à oferta, a ideia é diminuir a disponibilidade no mercado e aumentar o risco para quem vende as drogas. Essa atividade passa a ser mais arriscada, o que aumenta o preço da droga. Mas, no mercado de drogas, como a cocaína, que causa dependência química, esse impacto é quase nulo", diz.
"A demanda pela cocaína é pouco sensível ao preço. Com a elevação do preço desta droga, por exemplo, a pessoa não para de utilizá-la. Ela vai passar a realocar a sua renda e, quando a renda for insuficiente, passa a roubar para manter este vício", afirma o pesquisador, declarando que o Brasil não deve abdicar da defesa e do controle do espaço aéreo. "Há o risco de uma invasão por uma aeronave espiã, de outros países e de empresas, por exemplo", diz.
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