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Raios podem danificar avião e causar acidentes, como aconteceu na Rússia?

Vinícius Casagrande

08/05/2019 04h00

O avião russo Sukhoi Superjet-100 da companhia aérea Aeroflot, que pegou fogo durante o pouso no último domingo (5), teria sido atingido por um raio. Segundo o comandante Denis Evdokimov, o raio causou a perda de parte dos equipamentos.

"Por causa do raio, perdemos o contato de rádio e passamos para o regime de pilotagem mínima (…) Ou seja, sem um computador como de costume, mas de maneira direta. Em regime de emergência", afirmou o piloto ao jornal russo "Komsomolskaya Pravda".

Especialistas ouvidos pelo Todos a Bordo afirmam que não é impossível um raio causar danos ao avião, mas é algo extremamente raro. "Tem de ser um raio muito forte, que acontece um em um milhão. Se for um raio comum, não é para acontecer nada", afirmou Shailon Ian, engenheiro aeronáutico e CEO da Vinci Aeronáutica.

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"Ser atingido por um raio é algo comum, o que não é comum é o avião sofrer algum problema por conta disso. Já fui atingido por raio em voo e nada aconteceu", disse o comandante Miguel Ângelo, piloto de jatos comerciais e diretor de segurança operacional da Aopa Brasil (Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves).

Segundo o engenheiro sênior Edward J. Rupke, em artigo publicado no site da revista Scientific American, estima-se que, em média, um avião comercial em operação nos Estados Unidos seja atingido por raios pelo menos uma vez por ano.

As fabricantes são obrigadas a fazer testes exaustivos em relação à resistência das aeronaves a altas descargas elétricas, como os raios. Quando isso acontece, a energia é direcionada às extremidades do avião, para se dissipar novamente na atmosfera. No entanto, se essa energia não consegue ser totalmente dissipada, a descarga elétrica pode afetar o funcionamento dos sistemas elétricos do avião.

"Não acho que é um problema do projeto, mas esse avião em particular podia estar com algum problema", afirmou o comandante.

Dificuldade de controle do avião

Com danos no sistema elétrico, além de perder os computadores de bordo e informações importantes como velocidade e altitude do avião, o piloto pode enfrentar dificuldades para controlar o voo com precisão.

"Se o avião perde todo o sistema elétrico, perde também o fly-by-wire [controle eletrônico dos comandos do avião] e [o piloto] tem de controlar na mão. Aí justifica o pouso duro", afirmou Shailon.

Incêndio não foi causado pelo raio

Apesar dos problemas que o raio possa ter causado ao avião, não foi ele que causou o incêndio que matou 41 das 78 pessoas a bordo. Vídeos do momento do pouso mostram que o avião pegou fogo somente após fazer um pouso muito duro.

Ao se aproximar da pista, o avião ganha levemente altura, desce, sobe de novo e mergulha fortemente em direção à pista. O choque violento resultou na quebra do trem de pouso principal e na batida da cauda do avião com a pista, ocasionando o incêndio na parte traseira.

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Para o comandante Miguel Ângelo, o avião estava muito rápido e sem controle total, mas ele descartou falar em imperícia do piloto. "Não sabemos até que ponto o raio comprometeu os sistemas do avião. Se apagou as telas e ele ficou sem informações de velocidade, pode ter sido isso. Se o avião estivesse em condições normais, talvez fosse imperícia, mas é difícil afirmar sem saber exatamente as condições de voo", afirmou.

Demora na ação dos bombeiros

Para o engenheiro Shailo Ian, o mais crítico de toda a situação foi a demora na ação dos bombeiros do aeroporto de Sheremetyevo. Nos diversos vídeos que mostram o acidente, é possível ver as pessoas saírem do avião pelos tobogãs de emergência antes mesmo da chegada da equipe de bombeiros.

"O mais impressionante é a demora da equipe de solo. Onde estavam os bombeiros? O avião declarou emergência e eles tinha de estar prontos ao lado da pista. Quando o avião parasse já tinha de ter um monte de caminhão em volta. As mortes podem ter sido culpa do pessoal de solo", afirmou.

As causas do acidente estão sob investigação pela agência russa de aviação. Um relatório preliminar deve ser divulgado em 30 dias.

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