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Avião velho é mais perigoso de voar do que um novo?

Alexandre Saconi

09/03/2019 04h00

Aviões antigos podem voar normalmente, desde que estejam em dia com a manutenção, assim como este Boeing Stearman, fabricado em 1941, e que voa até hoje (Crédito: Alexandre Saconi)

Quem nunca ouviu falar em "teco-teco" como sinônimo de avião velho? Muitas vezes, esse apelido é utilizado para se referir a aviões ou helicópteros de aparência mais antiga ou com painéis cheios de "reloginhos" em vez dos modernos painéis de LCD. Em geral, são vistos como menos seguros para voar. Serão mesmo?

Diferentemente do que acontece com outras máquinas, os aviões não sofrem tanto com o passar dos anos. Para eles, idade não é sinônimo de falta de segurança. Segundo Paulo Nogueira Martins, diretor técnico da JP Martins Aviação, uma aeronave velha é tão segura quanto uma nova para voar "desde que mantida de acordo com o plano de manutenção do fabricante".

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Avião velho troca as peças

Um avião com 30 anos de fabricação dificilmente terá peças com esta idade, por exemplo. Ao longo do tempo, os cronogramas de manutenção definem a troca de diversas partes dos aviões e helicópteros, antes mesmo de elas apresentarem algum problema.

Junto a isso, após cada pouso e antes de cada decolagem, as aeronaves são inspecionadas para garantir a segurança de voo. Pilotos e mecânicos buscam por alterações que possam representar qualquer risco, partes amassadas, peças danificadas etc.

Gasta mais e é difícil achar peças

O maior problema com a idade avançada do avião é o seu custo de operação e manutenção.

Com o passar dos anos, certos modelos deixam de ser fabricados e, com isso, é mais difícil achar algumas peças. Além disso, o suporte do fabricante àquela aeronave cessa após alguns anos.

Em contrapartida, a evolução da tecnologia torna os novos modelos mais econômicos. Isso pode ser decisivo para aposentar um avião.

Peças são trocadas conforme tempo de uso

A troca de partes de um avião, dependendo de sua função, pode ser feita em determinados intervalos (meses, horas de voo, usos ou ciclos de pouso e decolagem). Tudo varia de acordo com aeronave, peça, material e opção da empresa que a opera.

Durante a vida útil da maioria dos helicópteros, por exemplo, o cone de cauda sempre é substituído em sua totalidade, mesmo que não tenha nenhum defeito ou desgaste aparente.

Pneus são trocados em até 300 pousos

Os pneus de um avião comercial devem ser trocados entre 100 e 300 pousos, dependendo do tipo e da operação realizada pela empresa aérea.

Os grandes aviões comerciais ainda costumam parar nas oficinas das companhias aéreas de tempos em tempos onde podem passar de poucos dias a até cerca de um mês. Nesse período, são feitas centenas de tarefas de manutenção em uma única aeronave antes que ela possa voltar a voar.

Idade média da frota no Brasil

O Brasil tem uma frota de aviões comerciais relativamente mais nova que as principais companhias aéreas do mundo. A idade média das frotas das maiores companhias aéreas do país é:

  • Avianca: 5,2 anos
  • Azul: 6,3 anos
  • Gol: 9,5 anos
  • Latam: 8 anos
  • Modern (carga): 29 anos
  • Passaredo: 10 anos

Empresas estrangeiras, como Delta e Air Canada, possuem uma frota com idade média de 17 e 15,3 anos, segundo dados do Panorama 2017 da aviação comercial no Brasil, produzido pela Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas).

Aviões de carga costumam ser mais velhos

Os aviões de carga costumam ser mais antigos. É o caso da brasileira Modern, que tem uma frota com idade média de 29 anos, ou dos aviões de carga da Latam e da Azul, com mais de 14 anos de uso. Isso também não significa que a segurança esteja em risco.

Muitas aeronaves de transporte de cargas são modelos que já voaram com passageiros e foram adaptadas para a nova finalidade. Esses aviões costumam receber a nova destinação quando, por exemplo, o custo para alterar o interior e torná-lo mais confortável para passageiros fica alto demais. Assim, pode ser mais vantajoso adquirir uma nova aeronave para transportar passageiros em vez de alterá-la de maneira substancial.

Oficinas são fiscalizadas

A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) tem a função de fiscalizar a manutenção de aeronaves. O objetivo é garantir que todas as normas e procedimentos, inclusive aqueles determinados pelos fabricantes, sejam seguidos à risca.

Segundo Miguel Angelo Rodeguero, piloto e diretor de Segurança Operacional da Aopa (Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves), essa fiscalização é intensa. "É muito difícil burlar normas de manutenção. Hoje em dia, dificilmente alguém não cuida da manutenção. Existem fiscalização e uma conscientização maior", disse.

"Essas oficinas de manutenção, de uma maneira geral, trabalham para que as aeronaves voem da maneira mais segura possível. Isso não quer dizer que elas não podem apresentar problemas, pois são máquinas como quaisquer outras. Mas a manutenção aeronáutica é preventiva, e não corretiva", afirmou Martins, da JP Martins Aviação.

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Sobre o blog

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