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Capital estrangeiro ajuda aéreas na crise, mas não deve baratear passagens

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11/04/2017 17h24

Medida deve fortalecer aéreas em tempos de crise (Foto: Lucas Lima/UOL)

Por Vinícius Casagrande

Erramos: este conteúdo foi alterado

A liberação para que companhias aéreas brasileiras possam contar com 100% de capital estrangeiro, anunciada nesta terça-feira pelo governo, não deve trazer impacto imediato no preço das passagens aéreas no país. Essa é a opinião de especialistas do setor ouvidos pelo Todos a Bordo.

O argumento de queda de preços foi utilizado pelo ministro do Turismo, Marx Beltrão, durante o anúncio da medida. "Com a abertura do capital, a perspectiva é que os preços caiam, que aumente a competitividade e que tenhamos mais voos, mais destinos, mais rotas, mais turistas viajando pelo Brasil e mais turistas internacionais vindo para o nosso Brasil", afirmou.

Para os especialistas ouvidos pelo Todos a Bordo, no entanto, o principal benefício da medida está na possibilidade de injetar recursos nas empresas, que poderão ter mais fôlego para enfrentar momentos de crises.

"É uma medida positiva e o principal impacto é evitar que uma empresa quebre quando fica em situação ruim", afirma o especialista em aviação André Castellini, da consultoria Bain & Company.

"Não dá para dizer que, porque abriu o capital, o preço vai cair. O acesso ao capital pode proteger as empresas que enfrentam dificuldades para sobreviver", afirma o especialista em direito aeronáutico Guilherme Amaral, sócio do escritório ASBZ Advogados.

Para Castellini, a limitação até então existente de 20% de participação estrangeira restringia o acesso ao capital. "Aumentar esse limite favorece a capitalização do setor", diz.

Castellini afirma que uma das tendências do setor é a formação de grandes grupos multinacionais de companhias aéreas. No mundo, há os exemplos da união da British Airways com a Iberia, o grupo formado pela Air France e KLM e o forte investimento da Etihad na Alitalia. "Quando a Delta é dona de uma parte maior da Gol, ela aguenta muito mais os momentos difíceis do que se a Gol estivesse sozinha", afirma.

Novas empresas no Brasil

Uma das perspectivas com a liberação de 100% de capital estrangeiro é atrair companhias aéreas estrangeiras para operar no Brasil. No entanto, Amaral e Castellini avaliam que essa é uma possibilidade remota no curto prazo.

"Acho pouco provável principalmente pela situação do país, pela incerteza econômica e também pelo fato de que a indústria no Brasil é bem competitiva, com muita rivalidade entre as empresas. As tarifas já caíram quase 65% nos últimos anos", afirma Castellini.

A recente polêmica em torno da possibilidade de cobrar por mala despachada é mais um fator que pode atrapalhar o interesse de companhias estrangeiras, especialmente as de baixo custo, de se estabelecerem no Brasil, segundo Amaral.

"O Brasil tem um histórico de interferência do judiciário. A questão das bagagens deixou uma imagem muito ruim para as empresas estrangeiras", afirma. "É preciso derrubar algumas amarras. Sem isso, as empresas não virão até que se dê condição para uma verdadeira low-cost poder operar por aqui", diz.

Aéreas se dizem favoráveis à medida

As duas maiores companhias aéreas brasileiras afirmaram nesta terça-feira ser favoráveis à abertura do capital estrangeiro. A Gol já conta com participação da norte-americana Delta e do grupo europeu Air France-KLM, enquanto a Latam, formada após a união da TAM com a chilena LAN, anunciou recentemente a venda de 10% para a Qatar Airways.

No entanto, quando questionadas sobre o assunto, as duas empresas emitiram apenas breves comunicados.

"A Gol é a favor da eliminação de qualquer restrição ao capital estrangeiro no setor aéreo brasileiro", disse a Gol.

"A Latam Airlines Brasil é favorável ao capital estrangeiro nas companhias aéreas, pois esse é um setor que exige capital intensivo, e essa medida estimula o crescimento, gerando riqueza para o nosso país", afirmou a Latam.

A Azul, que tem capital da norte-americana United Airlines e do grupo chinês HNA, não se pronunciou por conta do período de silêncio imposto após a abertura de capital na Bolsa de Valores de São Paulo. A Avianca não se pronunciou sobre o assunto.

Brasil sofre queda de voos

A atual crise econômica enfrentada pelo Brasil afastou diversas companhias aéreas que operavam no país. Grandes empresas como Singapore Airlines, Korean Airlines e Etihad abandonaram suas operações no país. No último ano, o Brasil teve uma redução de 18% na oferta de voos internacionais feitos por companhias aéreas estrangeiras. Mesmo entre as empresas que continuaram a operar no país, muitas reduziram a frequência de seus voos e até cancelaram algumas rotas.

As empresas brasileiras também sofrem com a queda constante do fluxo de passageiros. Fevereiro foi o 19º mês consecutivo de queda da demanda por transporte aéreo dentro do Brasil, segundo dados da Abear (Associação Brasileira de Empresas Aéreas). Somente em fevereiro a queda foi de 4,9% em relação ao mesmo mês do ano passado.

Errata: o texto foi atualizado

21/03/2019 às 15h30

A empresa norte-americana que tem participação na Gol é a Delta. A informação foi corrigida.

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